600 Milhas

Gabriel Ripstein já havia provado seu valor como roteirista e agora debuta como diretor. Por isso, cabe aqui algumas considerações preliminares. O cinema é uma arte audiovisual. Isso é uma afirmação óbvia, mas às vezes o óbvio precisa ser dito. Alguns diretores ignoram isso e contam suas histórias apenas por meio dos diálogos, se esquecendo do poder das imagens. Se esquecem que, além do roteiro, a posição da câmera pode ajudar a contar a história. É um erro especialmente comum entre roteiristas que se aventuram na direção. E nada disso acontece com Gabriel Ripstein.

Com uma direção rica em metáfora e rimas visuais, pouco da história é contada por meio dos diálogos. Cabe ao espectador desvendar, pouco a pouco, as atividades e as relações entre os personagens por meio de suas ações.  Se a repetição de situações de um personagem pode ajudar a construir a sua personalidade, a repetição de uma cena por personagens distintos ajuda a estabelecer a relação entre dois universos. É esse tipo de linguagem sutil que Gabriel utiliza, sem nunca entregar qualquer explicação de forma fácil.

O filme conta a história de Arnulfo Rubio (Kristyan Ferrer), um jovem mexicano que contrabandeia armas dos Estados Unidos para o México. Após um incidente envolvendo o policial Hank Harris (Tim Roth), ambos são obrigados a viajar juntos pelas 600 milhas que separam o Arizona e Culliacan.

Tim Roth e  Kristyan Ferrer constroem lentamente a relação entre seus personagens por meio de uma atuação naturalista, valorizada por uma direção recheada de tomadas fechadas. Essas escolhas, somada a takes mais longos e a ausência de tripé davam o tom permanente de tensão ao filme, mesmo quando a trama ainda não estava totalmente desvendada.

Esse controle da direção é a grande surpresa de “600 Millas”, comprovando o excelente momento dos diretores mexicanos.

Festival do Rio 2015 – Premiére Latina

600 Milhas (600 Millas)

México, 2015. 85 min.

De  Gabriel Ripstein

Com Tim Roth, Kristyan Ferrer, Noé Hernández