BLUE – bonjour tristesse
Renato Vieira cria, em parceria com Bruno Cezario, espetáculo para oito homens a partir do blues e da poesia da polonesa Wislawa Szymborska
Impactado pela crise geral que domina o país, atordoado pelas mudanças súbitas e difíceis de serem assimiladas, o coreógrafo Renato Vieira resolveu absorver o impacto entrando numa sala de ensaio. Reuniu um novo grupo de bailarinos – somente homens – e começou a experimentar movimentos, ouvindo o blues. Tendo a literatura sempre como um dos pontos de partida de suas criações, Renato Vieira somou a este universo a poesia da polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012), cujo lema foi “Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não escrevê-los.” A poesia CEM PESSOAS, em off na voz de Sura Berditchevsky, está presente no espetáculo.
Deste encontro entre o som pungente do blues e a poesia de Szymborska nasceu o novo espetáculo, “BLUE – bonjour tristesse”, que chega mostrando a Renato Vieira Cia de Dança numa formação diferente – juntos, e em solos, duos e trios, estão em cena novos bailarinos de diferentes procedências, selecionados por Renato. “Estou experimentando uma formação diferente na companhia” – explica Renato. Novos bailarinos, novas histórias de vida e dança. Além de dividir a coreografia com Bruno Cezario, como o blues dá espaço para o improviso, os bailarinos terão espaço para trabalhar com a improvisação ficando mais comprometidos com o processo de criação. Soraya Bastos, bailarina inaugural da companhia, não está em cena nessa nova criação, mas acompanhou todo o processo como assistente.
O ponto de partida no processo criativo foi o blues, mas ao longo do processo a trilha musical veio se abrindo para variadas intervenções sonoras, incluindo textos, fragmentos verbais e uma forte linha percussiva – tudo criado por Felipe Storino, que compõe pela primeira vez para a companhia. Ele fala de sua inspiração: – O som bate rebate, no corpo se molda, entra, reverbera, distorce, treme, escuta, sente e dança um blues. Duas únicas músicas não compostas por Storino estão presentes no espetáculo, ambas na voz de Nina Simone: Sinner Man e Strange Fruit, esta última uma referência no processo criativo. “Pelo universo que estamos tratando nesse trabalho, não poderia deixar de lado Strange Fruit, que é uma música emblemática de sua época e perfeita para esses dias em que vivemos tanta intolerância racial, sexual, política, religiosa. Não tenho a pretensão de levantar nenhuma bandeira. Mas, como artista, sinto necessidade de colocar em cena o que tem me perturbado tanto”, explica Renato Vieira.
Strange Fruit foi composta como um poema escrito por Abel Meeropol, em 1930. Professor judeu que dava aulas no Bronx, o poema foi a forma que ele encontrou para expressar seu horror diante do linchamento de dois homens negros. A música foi eternizada pela voz de Billie Holiday, que a cantou pela primeira vez em 1939, no Cafe Society. Eleita pela revista Time como a “canção do século”, Strange Fruit ganhou também belíssimas interpretações de Nina Simone, Carmen McRae, Diana Ross, Cassandra Wilson, Cocteau Twins, Antony and the Johnsons, Siouxsie & The Banshees, Wynton Marsalis, entre outras.
O poema de Wislawa Szymborska, abaixo, está presente no espetáculo, em áudio gravado pela atriz Sura Berditchevsky:
Cem pessoas
Em cada cem pessoas
Aquelas que sempre sabem mais: cinquenta e duas.
Inseguras de cada passo: quase todo o resto.
Prontas a ajudar, desde que não demore muito: quarenta e nove.
Sempre boas, porque não podem ser de outra maneira: quatro — bem, talvez cinco.
Capazes de admirar sem invejar: dezoito.
Levadas ao erro pela juventude (que passa): sessenta, mais ou menos.
Aquelas com quem é bom não se meter: quarenta e quatro.
Vivem com medo constante de alguma coisa ou alguém: setenta e sete.
Capazes de felicidade: vinte e alguns, no máximo.
Inofensivos sozinhos, selvagens em multidões: mais da metade, por certo.
Cruéis, quando forçados pelas circunstâncias: é melhor não saber nem aproximadamente.
Peritos em prever: não muitos mais que os peritos em adivinhar.
Tiram da vida nada além de coisas: trinta (mas eu gostaria de estar errada).
Dobradas de dor, sem uma lanterna na escuridão: oitenta e três, mais cedo ou mais tarde.
Aqueles que são justos: uns trinta e cinco.
Mas se for difícil de entender: três.
Dignos de simpatia: noventa e nove.
Mortais: cem em cem – um número que não tem variado.
(Wislawa Szymborka)
Ficha Técnica
Direção e concepção Geral: Renato Vieira
Coreografias: Renato Vieira e Bruno Cezario
Bailarinos: Dinis Zanotto, Elton Sacramento, Felipe Padilha, Flávio Arco- Verde, Jeferson Lengruber, Marlon Ailton, Tiago Oliveira, Wallace Guimarães
Trilha sonora original: Felipe Storino
Poesia: Wislawa Szymborka
Voz em off: Sura Berditchevsky
Assistente de ensaio: Soraya Bastos
Iluminação: Binho Schaefer
Figurino: Bruno Cezario
Fotografias: Bruno Veiga
Programação Visual: Cristhianne Vassão
Operação de Luz: Jon Thomaz
Operação de Som: Denise Mendes
Assistente de produção: Tatiana Ribeiro
Produção: Renato Vieira Cia de Dança
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Serviço
Estreia: dia 18 de maio (5ªf), às 19h
Local: Teatro Sesc Ginástico – Av. Graça Aranha, 187, Centro / RJ Tel: (21) 2279-4027
Horários: 5ª a sábado às 19h, domingo às 18h.
Ingressos: R$25,00, R$12,00 (meia) e R$6,00 (associados SESC).
Duração: 60 min.
Classificação etária: 14 anos.
Curtíssima temporada: até 21 de maio.
Circuito SESC
Sesc São Gonçalo, 02 de junho, sexta-feira, 20h
Sesc São João de Meriti, 03 de Junho, sábado, 19h
Sesc Teresópolis, 09 de junho, sexta-feira, 19h30
Sesc Nova Iguaçu, 10 de junho, sábado, 20h