Bom Comportamento
Danos Colaterais muito bem-vindos.
Impossível não sentir uma grande sensação à la ‘Michael Mann’ no filme “Bom Comportamento” dos irmãos Safdie com o astro cada vez mais camaleônico Robert Pattinson, que foi forte concorrente do Festival de Cannes deste ano e que estava bastante cotado especialmente para o prêmio de melhor ator. Digo, não uma comparação em relação à história, mas sim em relação à vibe, ritmo e linguagem no geral, há muito da escola “Colateral” de ser (filme, aliás, que só cresce para mim olhando para trás). O jeito como a câmera no rosto, na pele, e membros ativos como mãos e pés e dedos ditam a pessoalidade da ação constante, pois onde a lente aponta a narrativa continua como um trem descarrilhado, atropelando qualquer obstáculo ou barreira, e reinventando soluções onde aparenta haver apenas becos sem saída.

Sem falar no acerto com o clima oitentista, de trilha com sintetizadores e efeitos sonoros hiperbólicos, mais altos do que os diálogos. Há também um naturalismo ousado, propositadamente pseudo-documental, que surpreende mais quando a violência chega. Não que aqui se esteja comparando com “Colateral”, até porque “Bom Comportamento” possui mais crueza e imprevisibilidade no frenesi. As coisas dão mais errado aqui, e são resolvidas de forma mais inusitadamente improvisada, o que humaniza o platinado personagem fascinante construído de forma camaleônica por Robert Pattinson (Saga “Crepúsculo”, “Cosmópolis”), enquanto que no filme do Mann o personagem de Tom Cruise, também com os cabelos descolorados, era quase um super-herói, tamanha sua eficiência.
Já no filme dos irmãos Safdie, pode até parecer que seus personagens sejam menos trabalhados, mas não com menos carisma, afinal, a motivação do protagonista é simplesmente ajudar o irmão que possui um tipo de deficiência mental e foi preso a levar toda a culpa pelo verdadeiro mentor dos crimes cometidos no filme. Há em toda a obra inúmeras famílias disfuncionais em meio às pequenas infrações de todos os coadjuvantes que se somam aos principais. E a cena final já garante a maior catarse inesperada do filme, justo com o personagem do irmão deficiente, interpretado com uma credibilidade inacreditável, até porque seu intérprete é um dos irmãos diretores (Benny Safdie), em bem-vinda metalinguagem como bônus extra.
Não é um filme perfeito, nem tenta ser. Sua naturalidade exacerbada pode travestir certa pretensão como humildade. E algumas cenas podem não ter a proporção em força que a trilha e efeitos sonoros grandiloquentes podem permanecer a insistir mesmo quando a peteca cai um pouco. Mas ainda assim é filme de uma simplicidade moderna e descolada como muita produção de grande porte não aguenta o mesmo rojão.
Festival do Rio 2017 – Mostra Panorama Mundial
Bom Comportamento (Good Times)
De Josh e Benny Safdie
Com Robert Pattinson e Benny Safdie