Debate com a atriz Lou de Laage de “Agnus Dei”
Atriz visitou o Brasil para o Festival Varilux de Cinema Francês
Após uma sessão especial no Cine Odeon Kinoplex do esperado filme “Agnus Dei” pelo Festival Varilux de Cinema Francês 2016, a atriz Lou de Laage (de “Respire”) concedeu um interessante debate que abordou até o recente crime de estupro coletivo no Brasil, uma vez que o tema do filme tangencia esta problemática.

Em primeiro lugar, feliz de estar no Brasil para divulgar o filme, quando perguntada sobre a veracidade dos fatos e principalmente do final de “Agnus Dei”, como a obra foi baseada em fatos reais advindos dos registros no diário da personagem central, Lou afirmou que a produção não tinha como saber bem o que aconteceu depois, porque a personagem principal vai embora logo em seguida ao final que a história conta na telona, e morre logo depois, sendo que o diário dela só vai até aí.

Lou também revela que foram dois meses de filmagem, com pouco tempo para se preparar, pois chegou por último, já que viajou da França até o set de filmagem que ficava na Polônia, enquanto que o restante do elenco já era quase todo de lá. Como o seu personagem era de um mundo diferente do mundo das freiras, que estavam na contemplação interna ao mosteiro, a protagonista estava bem no meio da ação da trama (no caso, sua personagem trabalha na Cruz Vermelha) e teve de aprender o ofício de ser estudante de medicina diretamente com parteiras de verdade.
E Lou considera que teve uma sorte rara no cinema, pois pôde ensaiar diretamente no local de filmagem com outros atores, tendo uma ideia precisa e em comum do que filmariam. No diário da personagem real que inspirou a trama, só tinham detalhes técnicos porque eram de trabalho dela, por isso não sabem ao certo detalhes do laços afetivos entre os personagens , ou mesmo se ela teve de fato um relacionamento com outros médicos ou não… havendo certas licenças poéticas na história.

Diante da pergunta de qual cena foi a mais difícil de filmar, Lou responde que não lembra necessariamente alguma mais difícil que outras, e sim que o mais difícil foi a duração total, pois apesar de não saber como é no Brasil, na Polônia se filmam pelos seis dias da semana e durante muitas horas por dia, confinados em lugar pequeno e trabalhando muito. Também facilitou o fato de que não teve de interpretar tanto assim o cansaço com qual sua personagem se digladia durante toda a projeção, pois estava nitidamente e realmente exausta.
Sobre a ética medica de sua personagem versus a ética religiosa do restante das personagens no filme, primeiramente Lou esclarece que sua personagem não era médica ainda porque não havia terminado seus estudos até aquele ponto da história, sendo apenas uma aprendiz. Mas esse filme é sobre transgressão, assim como outros filmes desta diretora (Anne Fontaine). E muito importante na visão dela é necessário transgredir a ordem estabelecida pra manter a ética do ser humano em fazer algo maior e mais humano.

Sobre o crime do estupro coletivo no Brasil e as reivindicações mais feministas das mulheres do Brasil e até mesmo do mundo em suporte às brasileiras contra uma cultura do estupro, temas que coincidem com os do filme “Agnus Dei”, a atriz afirma que escutou muito sobre isso antes de viajar para cá, e lembra que, de fato, o estupro sempre aconteceu historicamente falando. Como uma arma de guerra, para mostrar o poder. No caso, “Agnus Dei” não só fala da violação, mas da consequência e como se reconstrói depois disso. Sobre a esperança e como se reconstruir. Para Lou, até mais do que feminista, o filme seria humanista, porque mostra o respeito pelo outro acima de quaisquer circunstâncias. Mas sim, é feito por uma mulher, representado por mulheres, fala de maternidade e de questões femininas e é muito humano.
Para Lou, é muito importante através de um filme fazer essas denúncias e dar um ponta pé no que não se quer mostrar, e espera que o filme possa tomar dimensão ainda maior aqui do que na França
