Filmes na TV para a noite desta quinta
A obra-prima interestelar de Stanley Kubrick projeta nossa imaginação para o espaço e Charles Dickens nos traz de volta à realidade

2001 – Uma odisseia no espaço
“2001: a space odyssey”. De Stanley Kubrick (EUA/ Reino Unido, 1968)
Estreou hoje um dos longas-metragens mais esperados de 2014: “Interestelar”, do genial Christopher Nolan, cuja inspiração foi a obra-prima de Stanley Kubrick (1928-1999). Pedra filosofal capaz de verter selvageria em intelecção, o monolito deixado na Terra pelos extraterrestres de “2001: Uma odisseia no espaço” (“2001: A space odyssey”) ensinou a ficção científica a filosofar pela cartilha de Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Avaliando questões como o eterno retorno, Kubrick pensou o projeto como uma experiência não-verbal. Só depois dos primeiros 30 minutos, palavras são pronunciadas: no caso “Aqui estamos”. Dos 141 minutos, só uns 40 têm diálogos. No prólogo, ao som de Strauss, o cineasta mostra primatas às voltas com a descoberta da violência A matéria-prima foi o conto “The sentinel”, do escritor Arthur C. Clarke (1917-2008), coautor do roteiro. Com US$ 10,5 milhões para gastar, Kubrick filmou de 29 de dezembro de 1965 a 7 de julho de 1966, no Shepperton Studios, em Surrey, na Inglaterra, e nos estúdios britânicos da MGM, em Borehamwood, além de locações na Escócia e no Monument Valley (EUA). Com uma bilheteria global de US$ 190 milhões, o longa-metragem venceu o Oscar de efeitos visuais. Ambientado em um 2001 futurístico, o filme narra a viagem espacial da equipe do astronauta Dave Bowman (Keir Dullea), a bordo de uma nave capitaneada pelo computador HAL-9000 (na voz de Douglas Rain, dublado aqui por Márcio Seixas). A missão de Bowman é investigar a aparição de uma suposta pedra energética na superfície da Lua — a mesma que surgiu na Terra na pré-História. Na viagem, o HD de HAL enlouquece e sai matando seus tripulantes até que Bowman aprende como virar o jogo em prol da Humanidade. Na versão brasileira, Hércules Fernando dubla Dullea.
TCM, 22h

Grandes esperanças
“Great expectations”. De Alfonso Cuarón (EUA, 1997)
No mesmo espaço onde Kubrick esculpiu “2001” e Christopher Nolan ergueu seu “Interestelar”, o mexicano Alfonso Cuarón Orozco arrancou a matéria-prima de seu obrigatório “Gravidade” (2013), sci-fi pelo qual ele alcançou consagração e o Oscar de melhor direção este ano. Mas bem antes de singrar entre as estrelas, o realizador de “E sua mãe também” (2001) enveredou-se pela literatura anglo-saxônica, chegando à prosa de Charles Dickens, e extraiu dela a argamassa desta love story de doer na alma por tempo indeterminado. Ethan Hawke tem um desempenho irrepreensível como o órfão Finnegan Bell. Quando pequeno, ele salva um homem misterioso (Robert De Niro) e percebe que este é um criminoso. O sujeito some e, sem saber como, Finnegan, que levava uma infância miserável, começa a receber apoio financeiro, sem saber como. Ele resolve estudar para aprimorar seu maior dote: o desenho. Mas todo o seu amadurecimento será assombrado pela paixão avassaladora que ele sente pela loura Estella (Gwyneth Paltrow, no auge da gostosura). A impossibilidade amorosa entre eles rende sequências de um lirismo doído, numa transposição do enredo do século XIX para a América dos anos 1990. O também mexicano Emmanuel Lubezki assina a fotografia desta pérola.
Rede Globo, 2h