Top Melhores atuações na 43° Mostra SP até agora
Confira os melhores atores e atrizes dos filmes já exibidos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Estamos sem fôlego! Acabamos de ver não apenas um dos MELHORES filmes da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como um dos MELHORES DO ANO:
“System Crasher” de Nora Fingscheidt
(Representante da Alemanha ao Oscar 2020)
E isso me faz trazer pra vocês outra lista hoje, o TOP 3 melhores atuações femininas e masculinas, que com certeza estarão no meu top 10 ao final, pois cada uma eleva o patamar da interpretação do seu próprio jeitinho:
Em primeiro lugar, vamos às principais interpretações femininas, já que hoje vimos 2 filmaços com protagonistas gigantes:

1) Helena Zengel por “System Crasher” — e dificilmente ela perderá este pódio para qualquer outra atriz. QUE ATUAÇÃO! E é só uma criança! Ou melhor, uma prodígio! Isso é mais do que uma interpretação, é uma encarnação, pois mais parece que ela canalizou uma entidade ali. Não deve ter sido um preparador de elenco e sim um exorcista, pra conseguir com que ela incorporasse essa possessão e depois tirasse o diabo da carne, que demonstra toda a revolta que a negligência social pode causar num período de formação tão especial para uma criança.
2) Haley Bennett por “Devorar” de Carlo Mirabella-Davis, em sua estréia como diretor. O filme é esteticamente muito bem resolvido em sua proposta plástica e, ainda que introduza e compartimente cada seção do filme de forma quase capitular, apresentando as manias obsessivas por devorar coisas em sintonia com as mudanças na vida da protagonista, o fato é que nada consegue ficar no caminho da interpretação de Haley. A atriz tinha um papel menor que a fez ficar famosa no filme “Letra e Música” anos atrás, mas foi com este longa que protagonizou de fato uma revelação nos cinemas. Tanto que ganhou melhor atriz no Festival Tribeca (onde o filme também saiu com melhor roteiro para o début do diretor). A evolução de personagem dela supera qualquer corte impreciso das passagens capitulares e entrega algo realmente potente, implosivo, com sutilezas e minúcias.
3) Mélissa Guers por “A Garota com a Pulseira” de Stéphane Demoustier, neste que é o novo filme francês de tribunais que esfacela com a instituição familiar ante valores moralistas, como “Custódia” fez ano retrasado. E a atuação de Mélissa caminha no mistério do olhar calejado de modo a não entregar nem inocência nem culpa ante o julgamento social — mantendo a dúvida até o fim, como grandes filmes do naipe de “Testemunha de Acusação” com Marlene Dietrich (a comparação foi com o filme, e não com a atriz, ainda que ambas encarnem em comum uma sexualidade bissexual e não binária bastante intrigante).

Agora vamos falar dos homens, pois eles não estão sendo nem um pouco eclipsados por elas:
1) Song Kang-Ho por “Parasita” — O ator assinatura do cineasta Bong Joo-Ho ataca de novo, em seu melhor rendimento. O que de início parece apenas uma caricatura de patriarca de uma família de classe baixa, que aplica pequenos golpes para sobreviver, vai saindo do pastiche e do lugar de coadjuvante dos personagens de seus filhos para se tornar um protagonista sem igual. O trabalho na diferença de classes através dos sentidos humanos, do toque ao paladar e especialmente o olfato vai tridimensionalizando a história toda como um funil que precisa passar por Song obrigatoriamente para tornar essa grande mise-en-scène em algo ainda maior. Um dos melhores filmes do ano, e atuação também.
2) Zaki Youssef por “Filhos da Dinamarca” de Ulaa Salim — O que é Zaki?! Que força da natureza! Que mergulho de imersão de personagem e autodescoberta identitária junto com o espectador. Em primeiro lugar, porque o filme possui 2 protagonistas, sendo que um é coadjuvante do outro em suas respectivas metades, e sendo também que o filme não começa com Zaki. Em segundo lugar, porque é assim que se revela todo o seu talento no giro Copérnico com que segura as rédeas das reviravoltas, para que a história se volte para ele em sua visão ambígua de mundo — até que tanto ele quanto o espectador sejam obrigados a precisar escolher qual caminho irão tomar. Basta dizer que o Brasil polarizado de hoje irá se identificar, e que a sessão acabou com gritos terapêuticos de “Fora Bolsonaro”!
3) Albrecht Abraham Schuch por “System Crasher de Nora Fingscheidt — um ator que era o típico galã de filmes alemãs genéricos de época e que, de repente, abraça a visceralidade do projeto e é em muito auxiliado pelas catarses geradas por Helena Zengel. E olha que ele segura as pontas de contracenar com esta aparição cênica que é a presença mística de Helena, quase um meteoro.
Menções honrosas:
“Atriz”: Hatidze por “Honeyland” de Tamara Kotevska que, à despeito de ser um documentário com roteiro ficcionalizado, e de Hatidze não ser uma atriz profissional, o que ela faz na tela é inigualável. A persona e a presença dela são química pura, e podemos chamá-la por designações mais modernas de “artista social”, até porque de fato esta incrível encantadora de abelhas tem muito a nos ensinar sobre a vida — abelhas comunistas maravilhosas, diga-se de passagem, pois existe uma regra na apicultura: deve-se pegar só metade do mel, e deixar o resto para as abelhas. — E se não aprendermos isso nem na marra, o desequilíbrio do ecossistema num caminho só de ida irá levar à destruição do planeta. Hatidze, neste sentido, é até uma super-heroína da vida real.
Ator: Thanawut Kasro por “Empuxo” de Rodd Rathjen. — ele pode ser apenas um coadjuvante (e eu nem adorei o filme tanto assim), mas o trabalho de Thanawut encarnando uma espécie de Capitão Ahab obcecado e psicótico no navio onde ocorrem as atrocidades inspiradas em fatos reais denunciadas pelo filme. E, mesmo que eu não concorde eticamente com algumas questões da obra em si e com a exotificação do sofrimento alheio, ainda mais sem tridimensionalizar o protagonista para que ele não fosse apenas mais um dado perdido dessas denúncias despersonalizadas, é principalmente a relação dele de pupilo/tutor com Thanawut que seguram o filme até o final. Parabéns para o ator que tirou leite de pedra de um arquétipo que tinha tudo para ser um mero vilão maniqueísta.