Não Me Toque (42° Mostra de SP)
Desconforto intencional e esteticamente fascinante sobre nossos tabus indizíveis
“Não Me Toque” da cineasta romena Adina Pintilie, documentarista por excelência em sua primeira incursão pela ficção (docuficção, para ser mais preciso, na verdade) – Nota 💯 !
Um dos mais controversos vencedores do Urso de Ouro na história do Festival de Berlim, agora sendo o mais polêmico filme da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (só perdendo talvez este posto para o famigerado e persona non grata “A Casa que Jack Construiu” de Lars Von Trier). Quanto mais escuto o maior número de reações nesta edição da Mostra de São Paulo advindas deste filme, reações completamente díspares e opostas em relação à recepção do desconforto intencional gerado, sendo que ninguém consegue sair incólume ou indiferente à sessão, eu fico mais e mais fascinado pela importância com que esta obra se AGIGANTA perante este momento paradigmático que vivemos.
Foi a sessão que mais saiu gente no meio da projeção no Festival de Berlim este ano, e ainda rolou mil brigas nas sessões — tinha gente que reclamava de quem ria… de tão tenso que o público fica com as ferramentas desconcertantes dentro de nós que o filme provoca por não assumirmos nossos próprios tabus, o que dirá os de nossos próximos.
Que fique claro desde já: O filme NÃO é sobre Sexo! É sobre nossa incomunicabilidade e incapacidade de intimidade, apesar do foco no toque como âncora. Também NÃO é um documentário propriamente dito!!!! Muito jornalista achou isso em Berlim e levou toco da diretora romena Adina Pintilie. Pra vocês verem, a atriz principal está tão bem (Laura Benson de “Ligações Perigosas”) que algumas pessoas acharam que a história que ela vive fosse verídica (quando na verdade a maior parte da construção de sua personagem vem de neuroses da própria diretora).
O filme tem uma construção interessantíssima de docuficção onde a diretira Adina pediu de cada membro do elenco e equipe um diário íntimo feito durante a produção por cada membro, e todos iam trocando entre si e vencendo as paranoias e neuroses uns dos outros em conjunto, através de várias oficinas e laboratórios através dos quais formou duplas e grupos que vemos no filme.
Sem falar que o filme esteticamente é muito bem bolado e enche os olhos com as decisões estilísticas de linguagem de sua diretora.
Confira crítica em vídeo na Berlinale:
https://www.youtube.com/watch?v=4jTuO_wshdU
Coletiva com a diretora:
https://www.youtube.com/watch?v=VcmURvgcsgU