O Abraço da Serpente
Lição histórico-transcendental no resgate indígena das Américas colonizadas

“O Abraço da Serpente” de Ciro Guerra, ganhador do Art Cinema na Quinzena dos Realizadores de Cannes e indicado ao Oscar 2016 como melhor filme estrangeiro, traz uma narrativa épica, co-produção suntuosa entre Colômbia, Venezuela e Argentina, com fotografia toda em P&B que incrivelmente realça a beleza e mistério da natureza selvagem ao redor. Uma visão histórica da Colômbia pré-FARC e necessária para se herdar as tradições culturais passadas pelos índios desde que os europeus começaram a colonizar e roubar suas riquezas naturais.

A história segue em duas linhas temporais, guiadas pelo mesmo personagem, ambos atores excelentes na dobradinha, ora o mais novo e ora o mais velho em diferentes maturações de sua jornada, para redimir os erros do passado. Como se fala sobre o interesse dos brancos europeus capitalistas em extorquir as dádivas da terra latina, é uma identificação em comum para todo país que já foi colonizado, além de se universalizar através do tema da alma e espírito, pois algumas folhas naturais que os indígenas cultivavam, apesar de hoje serem tratadas como drogas, como a de coca, já foram utilizadas para a cura, não apenas do corpo como do espírito. E estas práticas e costumes eram tratados com desconfiança quando da aproximação dos colonizadores em querer aprender, e daí vem a lição histórico-transcendental no resgate que o envolvimento narrativo hipnótico traz à tona, como se fosse uma espiral de nobres memórias entorpecidas pelo tempo. Vale ressaltar além do trabalho cênico dos ótimos personagens indígenas, a atuação do ator belga Jan Bijvoet (do notável filme “Borgman” ainda inédito no circuito brasileiro) como um dos colonizadores.

Com sensibilidade, o filme traça paralelos também com o antes e depois da colonização, uma crítica ao uso da religiosidade como lavagem cerebral à época e como isto degenerou tanto a cultura dos nativos como a de quem colonizava, resultando numa monstruosa quimera cujas consequências são sofridas até hoje. Filme em larga escala com grandes resultados, especialmente para a cinematografia Colombiana, que teve em 2015 três grandes filmes multipremiados internacionalmente, todos com méritos diferenciados, e difíceis de se escolher para representar o país frente ao Oscar, como além do então selecionado “O Abraço da Serpente”, o êxito artístico e singelo de “A Terra e a Sombra” premiado em Cannes com melhor Direção, e o lado feminino da denúncia às FARCs com “Alias Maria”.

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