Obvious Child

05 de novembro de 2014

A desenvoltura de Jenny Slate no palco em apresentações de stand-up no filme “Obvious Child”, um dos fatores que fazem dela a grande surpresa do longa, é explicada por um detalhe ― além de atriz, a moça é uma famosa comediante norte-americana. Donna Stern é a personagem interpretada por ela, uma moça especialista em fazer comédia com sua vida privada na noite do Brooklyn. Utilizando como base seu curta homônimo, também estrelado por Jenny Slate, a cineasta Gillian Robespierre é o nome por trás do filme, uma comédia romântica que não resvala na mesmice açucarada de exemplares do gênero. Além de cativar o espectador com o ótimo desempenho da atriz protagonista na condução de toda a narrativa, o filme convida seu espectador, com a leveza de uma história que quer divertir, a uma original reflexão sobre o aborto.

Na mudança radical da vida de Donna, temos a oportunidade de testemunhar a dificuldade de se fazer comédia quando a vida do artista caminha em direção completamente oposta ao riso. Donna perde o chão sob os pés quando é atingida por desagradáveis imprevisibilidades: seu namorado infiel decidiu abandoná-la e a livraria onde trabalha, antes de suas apresentações como comediante, está com os dias de funcionamento contados.

Completamente na fossa, Donna conhece Max (Jake Lacy), um gentil rapaz que ao contrário dela não sabe o que é viver na corda bamba. A noite de sexo inseguro dos dois, que acaba resultando na gravidez que aumenta a instabilidade de Donna, foi provavelmente o primeiro deslize da vida calculada de Max. Quando se nota que o roteiro faz uso de elementos recorrentes em filmes semelhantes, a questão do aborto filmada de forma nada polemizada, aliada às divertidas e também dramáticas experiências de Donna, evita que “Obvious Child” caia na perigosa armadilha do lugar-comum e passe totalmente despercebido.