Os Anarquistas
Ao invés de contribuir em desmistificar e ampliar o conceito de anarquismo, ou mesmo dialogá-lo com o presente, termina por confundi-lo e deturpá-lo
“Os Anarquistas” (“Les Anarchistes”) de Elie Wajeman tinha tudo para ser um excelente filme. Conta com jovem casal de novas estrelas francesas como protagonistas, Tahar Rahim (“O Profeta”) e Adèle Exarchopoulos (“Azul é a Cor Mais Quente”). Versa sobre a polêmica ideologia anarquista. E se passa em 1989, podendo contar com cenografia e figurinos de época. E acaba decepcionando em todos estes quesitos. Pegando como fio condutor um militar infiltrado (Tahar, apenas eficiente), o filme vai apresentando timidamente, quase sem interesse cada um dos anarquistas, independente da missão principal tanto do grupo, quase nunca expressada a contento, ou mesmo do protagonista em prender o grupo, a qual também vai perdendo sentido tanto para ele mesmo quanto para o espectador.

A mesma temática já foi explorada de forma muito mais feliz com “The Edukators”, com o ídolo indie europeu Daniel Brühl, com um triângulo amoroso entre 3 jovens que desejavam ensinar ideais comunistas aos privilegiados, pregando peças nas casas abastadas quando seus ricos proprietários se encontrassem ausentes. Aqui, em “Os Anarquistas”, também temos um grupo pregando peças na alta sociedade do século XIX, mas não apenas seus objetivos não são claros como são dispersos. E isto não se dá apenas por defeito de roteirização em falhar nas cenas que melhor deveriam exprimir sentido ao espectador das vontades de seus personagens. Mas também se dá por pulso fraco de seu diretor, conduzindo em ritmo disperso as subtramas amorosas, o triângulo amoroso sem sal, o líder anarquista que não manda em nada, os demais membros que perdem a individualidade antes mesmo de se tornarem interessantes, ou mesmo a súbita ação mais perigosa sem desenvolvimento apropriado que surge quando o grupo recebe ajuda de estrangeiros.

Ao invés de contribuir em desmistificar e ampliar o conceito de anarquismo, ou mesmo dialogá-lo com o presente, termina por confundi-lo e deturpá-lo, infelizmente desperdiçando o material original claramente inspirado em fatos reais em prol de tentar fazer um filme de gênero, que nem os próprios elementos do gênero trabalhado alcança com eficiência para capturar seu público. Pena principalmente para Adèle, atriz antes em franca ascensão, mas sem saber muito bem escolher projetos mais proeminentes a conjugar com sua escalada, levando sua interpretação um pouco no piloto automático.

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/almanaquevirtual/www/wp-content/themes/almanaque/single.php on line 52