Ruth & Alex
Novos ares politizados no romance da terceira idade

Pequenos filmes independentes, especialmente envolvendo atores de grande porte, mas que andam um pouco subaproveitados, em orçamentos de pequeno porte são muito comuns. A maioria gera resultados genéricos. Como é bom ver que este “Ruth & Alex”, ou “5 Flights Up” no original, consegue ficar acima da média, e render um bom aproveitamento para os merecedores Diane Keaton e Morgan Freeman, pela primeira vez na carreira interpretando um casal. Não à toa, por serem um casal inter-racial, ora idoso, recordam como sofreram preconceito, ainda mais agora que estão tentando vender seu imóvel e a notícia sobre um possível árabe percorrendo Nova York para realizar um novo atentado terrorista à la 11 de setembro está criando especulação depreciativa nos valores imobiliários. Uma notícia sem certezas, apenas especulações étnico-raciais sobre a origem do suspeito faz uma cidade inteira temer e o mercado financeiro balançar. É, os tempos mudaram…
Com uma ambientação aconchegante, sem necessidade de arroubos, o argumento original consegue carregar bem a história, e dar espaço principalmente para Freeman fazer o que sabe melhor: esbanjar experiência e maturidade cênica para fazer até Diane Keaton que hoje em dia anda no piloto automático crescer em cena, mais fragilizada e menos ‘neurótica’ do que de costume, como também crescer a participação da eterna ‘Sex and the City’ Carrie Preston. E ao menos duas sequências já fazem valer o filme, que são as visitas de compradores em potencial ao lar do casal, e a visita destes na casa de outros para comprar um novo apartamento. Essa estranheza alheia e desconforto da invasão de privacidade por todos os tipos, mesmo povoado de clichês e arquétipos, obtém uma sensação veraz que só quem já teve de exibir sua própria casa ou visitar muito a dos outros sabe exatamente como se sente. Entretanto, vários percalços diminuem um pouco o filme, como a péssima escolha por uma narração em off talvez escorados em espremer todo o potencial artístico de Freeman, inclusive seu inconfundível timbre, timbre de voz, aqui totalmente dispensável. Bem como as cenas de flashbacks com o casal jovem, ambos interpretados por jovens inexpressivos que empalidecem à sombra dos gigantes que os interpretam mais velhos. Sem falar no final reducionista que tenta explicar tudo, de maneira açucarada e previsível, quando até aí havia ido bem. Mas vale uma conferida em meio a tantos filmes mais pesados do Festival, este valendo como um fôlego de ar fresco nos intervalos.
Festival do Rio 2015 – Panorama do Cinema Mundial
Ruth & Alex (5 Flghts Up)
EUA, 2015. 92 min.
De Richard Loncraine
Com: Morgan Freeman, Diane Keaton, Carrie Preston
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